quinta-feira, setembro 30, 2004

A Bolsa ou a Vida

Dois fatos 'policiais' foram notícia nesta semana nos principais órgãos de comunicação do Rio. O 'arrastão' no Leblon e a execução pela PM de dois rapazes no Morro da Providência. A repercussão e o espaço que cada um mereceu mostram que, para a nossa impren$a, a bolsa de turistas na zona sul é mais importante do que a vida de jovens negros na zona norte.

Um escândalo. Quem lê jornais ou vê tevê percebe que a cidade está horrorizada com com a barbaridade. O clima descrito é mais ou menos o seguinte. Um grupo de vândalos pivetes, todo negrinhos, atacam turistas indefesos na praia. Onde vamos parar? Cadê a polícia que não protege os cidadãos destes monstrinhos?

Não é a primeira vez que a TV Globo capricha na cobertura de imagens de arrastões na praia em véspera de eleições. Quando César Maia foi eleito prefeito pela primeira vez, causaram providencial frisson na semana do pleito as cenas da turba negra nas areias da zona sul. César, que pode ser tudo mas não é ingrato, logo mandou arrebentar as calçadas de toda a cidade, dando oportunidade para que a os cabos da Net (das organizações Globo) chegassem aos lares cariocas. Tratou também de regularizar a situação jurídica do terreno do Projac, do qual a Globo nunca conseguiu comprovar a propriedade, mas que desde a gestão do Saturnino Braga (1985-1988) tentava obter o 'habite-se' da Prefeitura. O casamento Globo/Maia tem rendido bons frutos para ambas as partes.

O patético governo estadual utiliza este dado da realidade para tentar dizer que o arrastão foi uma ficção, uma armação eleitoral. Esquecem-se de dizer que a manipulação está em fazer tal estardalhaço na semana da eleição, pois, se quisesse, a Globo poderia filmar estas imagens em qualquer outra das 51 semanas do ano; poderia escolher o dia, se segunda ou terça ou domingo. Estes assaltos sempre ocorrem.

No outro lado da cidade, uma cena que também não é inédita, vai parar nos jornais. Polícias fazem uma operação em um morro e, horas depois, saem carregando os corpos de dois "traficantes". Só que desta vez, o reporter fotográfico de O Dia, Carlos Moraes, a bordo do helicóptero da polícia, registrou a ação da PM. Os policiais encurralaram, prenderam e executaram dois jovens (16 e 24 anos). Com exceção de O Dia, que deu destaque ao brilhante trabalho do seu fótografo, toda a mídia tratou como uma caso a mais de abuso policial. A cidade não se escandalizou, não se horrorizou, o Viva Rio não vai fazer passeata contra o assassinato dos negrinhos.

Salta aos olhos a diferença entre os casos. Num os negros são algozes da sociedade e noutro, suas vítimas. Mesmo quando são as vítimas, foram anteriormente condenados como bandidos cuja pena de morte é executada antes de que possam vir a "fazer mal" à sociedade. O Brasil tem uma pirâmide etária pior do que países que estão oficialmente em guerra. Existe um buraco estatístico em jovens homens, de 18 a 30 anos. Colocando uma lupa nestes números vê-se que o que falta são os negros e pobres assassinados nos grandes centros urbanos.

O escândalo, o horror contra o arrastão é a base da ideologia da política de segurança pública que gerou estes números. "Contenha estes bandidos nestes nos seus guetos, extermine-os, mas não permita que eles venham perturbar os cidadãos. Matem esses garotos do morro da Providência, pois temos que defender as bolsas da classe média e dos turistas da zona sul."

Um comentário:

Anônimo disse...

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