Observatório da Tropa de Elite
Ontem a noite me postei frente a TV Canal Brasil para assistir o programa Observatório da Imprensa. O foco do programa ontem foi uma entrevista com o diretor do filme Tropa de Elite articulando SP, DF e RJ alternando o debate entre filósofo , professor e jornalistas e evidente o cineasta.
Peguei o programa do meio para o final, mas já me valeu muito. Os debates giraram em torno da violência, pirataria, possibilidades das personagens do filme e da pirataria.
Após remoer o filme, pude perceber que Tropa de Elite extrapolou os limites da projeção do cinema. Atreveria-me dizer que se trata de um fenômeno cultural que encontrou eco em diversas camadas da sociedade.
Não é raro ver, em diversos círculos, adolescentes se tratando como 02 ou 05. Vi isso num programa de formação para jovens de comunidade.
Numa boate da cidade de Santa Maria, vi pelo menos 8 estudantes de Arquivologia da UNB simulando o treinamento que o capitão do filme faz num espaço cheio de container. Quando vi a simulação achei que estava no meio de uma incursão do BOPE. Que nada!!! Os alunos da UnB voltaram a beber e dançar.
Ou mesmo quando, assistindo a reportagem sobre o jogo entre o Corinhtians e o São Paulo, a TV foca os incidentes entre os torcedores do primeiro time, praticamente marchando para o estádio, entoando o tema do BOPE: “Bonde sinistro, osso duro de roer....” e logo em seguida o confronto com a policia e os tocedores.
Todo fenômeno cultural deve ser observado, contextualizado e refletido. Eis o que se propôs o programa e o fez, me esclarecendo de uma série de duvidas. A principal talvez seja a limitação do discurso do capitão Nascimento, o contexto da corporação policial, que deve ser visto como um todo e não como vimos, pelo individual. A herança de uma corporação estruturada na Ditadura Militar e seus autoritarismos hierárquicos.
Mas de certo que essas leituras, que o Observatório da Imprensa nos colocou é restrita a intelectuais. Que podem compreender os discursos, que se interessa neste tipo de programa e consegue acompanhar o debate, que na estrutura da construção das reflexões, podem dialogar via email ou via telefone com os pontos centrais do programa.
Porque de resto, no grosso da população, na massa e até em alguns estudantes de classe média e até alta o programa Observatório da Imprensa de ontem é chato, com um monte de pessoas falando e em alguns momentos sem que se entenda o que eles falam.
Logo...
O filme é a realidade possível... e sem dialogacidade. Passa ser uma constatação onde a realidade do BOPE sua atuação e seu conceito se encerram ali mesmo e em alguns momentos justificáveis.
E o filme em si, mostra a tragédia e a incapacidade das personagens na busca de tentar resolver, sem sucesso aqueles problemas.
E quais seriam essas possibilidades limitadas????
Que o policial tem apenas três caminhos: se omitir, se corromper ou entrar na guerra. Fica de fora as inumeras possibilidades de debate com a sociedade, a negociação, a compreensão do problema social, a criminalização da maconha, e principalmente, a compreensão de que, a tortura é covarde.
E mesmo na guerra, é crime contra os direitos humanos.
Sejam eles os bandidos, sejam eles os mocinhos, sejam eles os anti-heróis.
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