terça-feira, julho 23, 2002

Pré-modernismo



Quem não conhece Monteiro Lobato? Quem nunca ouviu falar de Emília, Visconde de Sabugosa, Narizinho, Dona Benta e todo o pessoal do Sítio do Picapau Amarelo? Porém nem só de literatura infantil viveu Lobato. Muita gente não sabe, mas este paulista de Taubaté foi um grande escritor dos chamados "livros para adultos", e com a mesma genialidade que escrevia para as crianças.

Foi Zé Bento um dos primeiros a descobrir para o resto do Brasil um novo tipo brasileiro. Os pré-modernistas, como ficaram conhecidos, acreditavam que aquele antigo papo da escola literária romântica do "herói nacional", o mito indígena, estava ultrapassado. Tal definição só servia para mascarar as mazelas dos prórpios índios -- que estavam e ainda hoje estão muito longe do porte quase europeizado de Peri e Ceci -- e de grande parte da sociedade brasileira. Dizia Zé Bento:

Morreu Peri, incomparável idealização dum homem natural como o sonhava Rousseau, protótipo de tantas perfeições humanas que no romance, ombro a ombro com altos tipos civilizados, a todos sobreleva em beleza de alma e de corpo (...) O indianismo está de novo a deitar copa, de nome mudado. Crismou-se de "CABOCLISMO".

Outras brigas foram compradas por Lobato. Fundou a primeira editora nacional, a Editora Monteiro Lobato & Cia. Mais tarde fundaria a Cia. Editora Nacional e, em 1944, a Editora Brasiliense.

Uma outra briga acabou lhe custando a liberdade. Escreveu um livro denúncia intitulado O Escândalo do Petróleo" no qual bradava aos quatro ventos:

O Petróleo é nosso! Os estrangeiros dominaram o petróleo assim como dominaram as finanças, o mercado do dinheiro. E assim como dominaram o dinheiro, dominaram também os governos. Há algo de podre no reino da Dinamarca!

Lobato acabou pagando por dizer verdades. Em 1941 foi preso e condenado pela ditadura de Getúlio Vargas a seis meses de prisão. Sete anos depois morreu em São Paulo, aos 66 anos.

A região do Vale do Paraíba inspirou o autor a escrever a obra "Cidades Mortas" e a criar o cabloco Jeca Tatu, representante de toda a classe "caboclista". Tal personagem, a princípio, era chamado pelo próprio Lobato de vagabundo e indolente. Só mais tarde é que toma consciência da realidade daquela população subnutrida, sem forças para trabalhar, marginalizada e sem acesso à cultura.

Do livro "Cidades Mortas" extraí um conto que mostra a maestria com que Monteiro Lobato se utilizava da pena para mostra seu ponto-de-vista. Segue no próximo post.

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