quinta-feira, outubro 09, 2025

Agudos


Agudos
De Renato Motta 

Como se fosse um corte 
Centenas de faces dramáticas 
No interno da boca e dos lábios 
Milhares de farpas metálicas. 

Como se fosse um mote 
De um signo jamais esperado 
Faço do peito, pele e da carne 
Infusão, que me sinto abraçado. 

Como se fossem angústias 
O limite do tempo em gotejo 
Faço das noites em claro 
Agudas agulhas no peito. 

Como se fossem palavras 
Rompem meus sonos, lampejo 
Abro meus olhos na noite 
Interrompe os intensos desejos 

Como se fossem martírios 
O caos por dentre os bocejos 
O ventre a ser consumido 
Mil faces de um caranguejo

(Jaboatão dos Guararapes-PE, 08/10/2025)

2 comentários:

Carlos Antônio Filho disse...

A alma em versos se fotografa
E as letras em preto e branco tú as tem
Mas no tempo maturado dos teus dias
A Memória, com leveza, o teu álbum autografa

E contemplando essa foto
Tirada com esses versos agudos
Nesse agora que parece indissoluto
Dirás a ti mesmo em tom remoto:

“ – Foi assim?”
“ – Achei que em agudo ficaria”
“ – Mas eis que hoje se revela não mais que tortuosa passagem”
“ – Foi-se!”
“ – Ficou lá, no recanto da Memória, vereda de jornada”
“ – Hoje é tempo. Sigamos!”
“ – Amanhã é dia de Maracatu!”

Renato Motta disse...

Adorei a resposta poética para o futuro. Belo tema a se debruçar. Obrigado Carlos