quinta-feira, maio 08, 2003

BABEL MINHA


Por Thereza Christina Motta
para Waly Salomão, em memória

Eu sei.
Já se foi o tempo
em que as ninfas azuis
se despregaram do lodo
e alçaram um vôo mais alto
que as copas das árvores.
Eu, que contenho todos os segredos
da terra dentro das conchas,
abri o chão para que tu te deitasses
pela última vez.
Misturo agora tua sombra
com o negror da noite
que encobre os cálices e as bordas
dos copos, para sorver mais uma vez
a tua seiva.
Leia em tuas mãos os derradeiros
versos que escreveste.
Ergue-te, poeta, para o brado de teus ancestrais.
Estás aqui abandonado por tua própria
essência: entre loas,
o arcano da morte te traz um renascimento
sem dor.
Babel minha,
desvela a voz,
revela-nos a sorte.
Em tua bíblica túnica,
és o filho órfão de tua palavra.


Poema lindo, fui um admirador da figura vibrante que Waly sempre me passou.
Uma grande perda. A Babilônia também homenageia, em luto, este maravilhoso poeta.

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