quinta-feira, setembro 11, 2008

Traduzir-se


Por Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?


Sei lá...
Bateu aquela baita saudade das noites no Teatro Glaucio Gil com o Grupo Poesia Simplesmente e voz doce de Delayne Brasil cantando essa poesia com música.
Traduzir-se revela um pouco destas nossas contradições internas.
Grande poeta brasileiro!!!

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