quarta-feira, fevereiro 04, 2004

City of God




Não dá pra não falar....
Cidade de Deus, sub-bairro de Jacarepaguá, tem uma importância especial pra mim. Sendo um lugar que já caminhei, desde a década de 80 quando meu velho pai ministrava aulas de artes cênicas na principal escola do bairro. O CIMPA (Centro Interescolar Municipal Pedro Aleixo). Eu nunca entendia direito o que era Centro Interescolar, mas tudo bem, o que importava era que vezes ia com meu pai e numa dessas idas vi a montagem da Arca de Noé. Fiquei encantado, olhar de criança. Claro, era super bem tratado como o filho do Professor Décio. Tanto pelos educadores, quanto pelos alunos.

No início da década de 90 minhas idas à Cidade de Deus eram mais constante... Novo Centro Comunitário na região conseguimos o teatro, e montamos um curso naquela favela. Fui fazendo novos amigos, Janaína, Adriana, Renato, Flavio, etc...
Com o passar de um ano criamos um grupo o AD-APTA e adaptamos o AUTO DA BARCA DO INFERNO peça quinhentista do autor português Gil Vicente. Apesar de um problema real com traficantes, foi uma experiência no mínimo fascinante.

Minha terceira e ultima relação com o bairro foi no final da década de 90 quando trabalhei no CIEP João Batista dos Santos, num projeto da UNI-RIO chamado NESSA ESCOLA EU FICO, desenvolvendo com alunos de Jardim de Infância até a terceira série do primeiro grau, Oficina de Teatro. Tenho saudades daqueles meus alunos, dia desses soube que uma de minhas alunas tinha morrido porque a mãe tinha deixado ela trancada e houve um incêndio. Fatalidade mesmo!!!

Enquanto morava em Recife, dei uma pequena passada pelo Rio e aproveitei pra ver Cidade de Deus no cinema. Fiquei emocionado mesmo (quando falo isso é que provavelmente derramei algumas lágrimas no escuro do cinema), admirado por ter assistido um excelente filme e por lembrar de todos os momentos que percorri aqueles becos, vielas e apês. E não é que no final dessa semana o filme retorna pro circuito?!!

Nunca um filme brasileiro foi indicado em quatro categorias, entre as mais importantes (Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Fotografia). Nunca isso aconteceu em Holywood. Por isso volta em cartaz...

Acredito que por de trás de tudo isso, é a cara do Brasil... É o Rio de Janeiro... É Jacarepaguá... é Cidade de Deus.... É Paulo Lins e a riqueza de sua nova linguagem literária... é um pouco de minha vivência e lembranças. Esse post, nada mais é do que a minha torcida para que pelo menos uma estatueta dourada daquelas venha pra gente, e segundo uma gíria bem carioca: “– É nós, cumpadi”

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