Minha Vó Geny
Ontem minha vó fez 96 anos de idade, mas me parece que ela não entendeu direito, bem, deixa pra lá.
Cantei o tradicional parabéns pra você, e ela ficou somente me olhando. Definitivamente nesses 96 anos ela sempre foi muito danadinha (da para ver nesta foto onde, embaixo do cobertor vermelho e de um chapéu que trouxe da Bolívia, ela teve tempo de colocar a lingua pra fora, num misto de sarcasmo e descaso)
Gaúcha do interior, la pelas estâncias de Bagé, minha vó tem histórias geniais, até porque, geniosa ela sempre foi.
Morava numa fazenda, enquanto criança e adorava cavalgar no pelo com as duas pernas voltadas para um só lado, sem pelego, arreio, ou qualquer tipo de proteção convencional.
Suas obrigações eram rígidas e o cotidiano entre brincadeiras e diversão se misturavam com as tarefas no pasto e com o gado, além das tarefas domésticas. Ela e mais quatro irmãs mulheres junto com a Mama e o pai Zhacaria formavam a família Vieira Vaz (a origem italiana, nesse sentido é evidente).
Seu pai - Zhacarias - era um político da região e que não tardaria a entrar no conflito regional entre os Maragatos e Pica-Paus.
Por ser uma figura importante, as visitas de outros estanceiros, políticos e castelhanos era constante e não tinha horário determinado.
A tradição mandava que o anfitrião oferecesse um chimarrão para que os assuntos fluíssem melhor. Independente da hora, Mama ordenava
- Geny, prepara um mate pra nossa visita!!
E lá ia a menina, meio sonolenta e emburrada preparar a cuia de Chimarrão.
Mas ela, bem travessa, não perdia a oportunidade de aproveitar tal ocasião . Fervia bem fervida a água em em vez de somente colocar na cuia (que tende a resfriar um pouco a água) encheu toda a bomba com a agua fervente e escaldante.
Ao chegar na sala de estar com a cuia, Geny ofereceu ao convidado a primeira cuia - geralmente a mais saborosa - que ao primeiro gole sorveu a água escaldante que deve-lhe ter assado a língua e a garganta.
- Tá bueno o mate! Bem quente, gracias! - falava o convidado com os olhos vermelhos e a dor retida na garganta esfolada pela agua.
E de longe, bem escondidinha, Geny ria de mais uma vítima de seu ardente mate amargo.
Parabéns vozinha.
Feliz aniversário.
PS: minha vó ainda tem outras dezenas de histórias
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