quarta-feira, julho 24, 2002

Tudo começou quando....


Texto elaborado durante a oficina de leitura do Centro Luiz Freire.
Por Renato Motta


Tudo começou quando me perguntaram qual é realmente a origem do mundo, ou mesmo do universo. Sei não, tantas foram as influencias em minha vida que não sei ao certo se estou certo ou errado, mas não posso negar. Sou brasileiro e por isso tenho algumas certezas (eu acho).

Nascido e criado no Rio de Janeiro, urbanidade sempre presente e constante, mas uma paixão pela natureza, o mar, as estrelas, o luar....
Esses por sinal muito bem explicados e fundamentados pelo meu velho pai, conhecedor e dono supremo da verdade, aos olhos de criança, os meus - que até hoje estão presentes e são reflexo de minha realidade.

Ele, meu pai, com a sua formação em biologia, explicava-me, com um brilho nos olhos, o processo de fotossíntese, o comportamento animal e seus mimetismos, ou mesmo a origem da vida e do universo.

Átomo, explosão - um ato do átomo em re particularizar em partículas do universo infinito da grande explosão.

Ahhhhh, verdade essa, que nunca quis contestar, porque os indícios científicos são absolutos e nunca tive o mínimo de interesse de querer confirmar, até porque não sou um adepto de foguetórios, bombinhas, ou outros artifícios explosivos que o ser humano criou há muito tempo atrás, naquelas bandas orientais que hoje está convencionada como China.

Talvez isso reforce, inclusive, que durante a minha infância não gostava muito de ir ao Maracanã ver os jogos do Flamengo porque aquela barulheira me incomodava, assustava profundamente. São João então era terrível.

I tempo foi passando e o meu tempo de escola informava a todos da turma que era Ateu, e com a maior garantia do mundo, explanava sobre a origem da teoria do mundo.
Meus colegas mais versados em comunhões diversas, passavam a me bombardear e me empurrar por goela abaixo os princípios dogmáticos – A existência de Deus, do Céu, etc... – Que inferno (figurativo mesmo), meu sofrimento era intenso, quantas brigas tive. Algumas bastante exaltadas.

Na adolescência e fase adulta, comecei a amadurecer essas idéias, através da minha curiosidade. Resolvi que teria que conhecer algumas.
Fui a todas as igrejas ao meu alcance, mas devo que confessar que esse não era o centro de minhas prioridades, enquanto jovem.

Na Batista, curti as músicas, na Universal dramática, a católica (casamentos) era monótona, a Carismática longe de mim, na Umbanda não fui porque (devo confessar) tinha um medo terrível de um santo encasquetar comigo e resolver baixar em mim. Na Cardecista encontrei um ambiente harmônico, envolvendo explicações beirando o científico e o sobrenatural, com presença de espíritos de outros mundos, como acreditava neles, freqüentei algumas sessões.

O curso de história na UFRJ revirou minha cabeça e lá fui eu me identificar com as idéias de Marx e seus fundamentos de luta de classe, com a minha realidade, onde uma minoria, exclui a maioria, contribuindo para uma sociedade individualista, oprimidas pelo sistema, e a religião tendo o papel de alienar o povo – e promovendo o Pannis et Circencis

Enquanto isso, fui sendo alvo, de visitas na porta de minha casa, geralmente nos domingos às 8 da manhã, onde senhoras e jovens tentavam me convencer a comprar umas revistas que falavam de família, ou mesmo do apocalipse, do fim do mundo, etc... A função delas era me salvar.
Ouvia a tudo atento e com meus olhos inchados de sono da festa, do dia anterior. Alem disso às vezes inventava de debater e sempre recebia outros argumentos mais radicais sobre Deus. Nunca comprei nenhuma daquelas revistas, mas sempre ganhava uma delas. Acho que como premio de consolação por ter promovido um debate profundo sobre a minha condição de agnóstico. Revistas essas que nunca li.

Depois que vim para Pernambuco, tive contato com os povos indígenas, vendo toré, as danças, o sincretismo, as lutas, os ritos, a força de cada povo. Percebi que eu era carioca com avós gaúchos e uma bisavó Índia (minha mãe fala muito).
Talvez ela fosse bugrina ou seja, Guarany pela localização de Bagé, dos povos que povoaram o sul do Rio Grande do Sul e que sofreram barbaridades dos povos das missões religiosas jesuíticas, ou mesmo dos fazendeiros gaúchos que escravizaram esses povos, para a pecuária extensiva – ou charqueado.
Me identifiquei, sou índio, carioca. Alias Karioca.
Acho que quem criou o mundo foi Tupã
E que os encantados de luz nos protegem e os cavalheiros de Aruanda percorrem as matas de Ororubá.
Meu povo reza, canta, dança a Deus, Tupã, Jesus, Encantados de luz, aos caboclos em transe que estão trabalhando.
Sou índio, negro, branco, brasileiro, Karioka,
Sou Renato Motta.

A origem? Bom, acho que tudo começou quando Tupã lançou um raio, de uma grande explosão surgiram sistemas, galáxias, e dali os planetas.
A Terra, foi uma particularidade, um planeta que era magma, e que tinha um grande caldo fervente. Dali surgiram os primeiros seres vivos – depois protozoários, etc, etc, etc que dali foram evoluindo para mutações, répteis, mamíferos, macacos, homos erectus, etc,etc, Nas eras paleozóicas, mesozóica, de milhões de anos atrás.
Hoje os encantados de luz nos protegem, como o Tupã, ou Deus, ou Ogum, ou Alá ou qualquer que seja. Essas energias e crenças que regem as diversas vidas deste planeta.
A mim, bom eu mesmo é que não quero ver a origem... Porque é uma explosão tremenda.
FIM

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