quarta-feira, junho 12, 2002

A esperança é a véspera da desilusão


Estava pensando hoje nessa frase, formulada pelo meu amigo Frederico Bittencourt. Quem vive nos países dependentes - o lado mais fraco da tal globalização - cada vez mais vê o sentido da palavra esperança se desintegrando no ar. Existem carências cruéis, desumanas, como a carência de alimento, a carência de segurança, a carência de afeto... Mas existe uma ainda maior: a carência de sonhos. Quando tiram isso de alguém, tiram também o próprio chão que lhe dá base. É assim que ando me sentindo, cada vez mais sem chão. Enquanto vou aqui me sacudindo pra espantar esse urubu, escrevi esse poema:

Era das Incertezas

Quebram tua redoma
Desfazem teus sonhos
E o que antes era prazer
Hoje mergulha no medo mais profundo
A vida tem gosto de ferro
No corpo, o rubro torpor
Procuras: não há saída!
A não ser os caminhos
D'onde ninguém jamais voltou
Por quantas forem as tentativas
Mais virá o desalento
No entanto, é só isso que nos resta
Enganar nossos temores
E seguirmos na chuva
Com o coração na mão

Mais nada

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