As Favelas do Rio - Um Complexo
A encosta do Complexo do Morro dos Macacos está desnunda da floresta inicial.
Ocupada outrora pelos barracões de zinco, hoje são dezenas de barracos de alvenaria criando um verdadeiro caledoscópio colorido de formas e tamanhos.
Quando estamos naquele escaldante sol de um Rio de 40 Graus, as lages são utilizadas pelas crianças e ou adolescentes para soltar pipas e pelas mulheres para o brozeamento. Pois a praia é distante, cerca de uma hora de onibus apinhado de gente.
Os becos são labirintos onde não habita o minotauro, mas sim a possibilidade de se encontrar com os donos do morro. É desta forma desordenada que vão se esgueirando morro acima, trnasformando-na na categoria de Favela - onde a miséria é exposta diante de um grande quadro para quem olha de baixo, do asfalto.
O chão é demarcado pelas ladeiras ora ingrimes, ora suaves fazendo parte do cotidiano dos moradores do morro.
O cheiro é forte, intenso e contrastante. Ora é o cheiro do lixo não recolhido e espalhado na rua, ora do esgoto que desce pelas valas, ora doce - de algum bolo feito pelos doceiro, ou então o odor da padaria comunitária, ora de uma fritura na hora do almoço ou então o cheiro das birosca frquentada pelos moradores.
A paz é uma palavra efêmera e não linear. As vezes a favela pode estar calma, ou agitada, ou perigosa como as ondas e a maré.
Os perigos das favelas são muitos e indescritíveis, as vielas escondem palmo a palmo a possibilidade do juízo - a morte ou o perdão. Um espaço entre o viver e o sobreviver dos diversos perigos que abrigam a favela. De gente que nasce, cresce no interior de uma guerra velada cheia de regras postas, impostas ou rompidas pelo silencio de um estampido oco e brutal que ecoa pela comunidade.
O interior das casas é o que menos importa nesta dinamica da favela - gente humilde lutadora que vai adquirindo o que pode e realizando esporadicamentes desejos de consumo. São nas construções que abrigam uma tenuê solidariedade num misto de invasão de privacidade.
Comunidade... amizade, eis aqui a maior riqueza. As janelas surgem de todos os cantos e todas as direções - dando a sensação de uma grande familia, exposta e se expondo, suas felicidades e suas animosidades. Suas convicções ou suas religiões, sendo impossível determinar onde começa ou termina as fronteiras de uma comunidade.
A Garra!!!! A vontande de lutar!!!
As frestas são onde os espaços da cultura se dialoga, ora o batidão do funk, ora o samba de raiz, ou mesmo um forró estilizado em som alto, ou da pregação das igrejas protestantes. Nesta dinamica repartida entre vira-latas, gatos, gatunos, cães, falcões. O animal e o humano se confundem, se misturam, se protegem, se dilaceram.
Cada dia que se passa numa favela, um misto de dor e alegria, de sobrevier ou de não se ter o que fazer, de comemorar nas festividades de toda a sexta feira. No baile - espaço de diversão e disputa, de luta e morte e a batida caracteristica do funk pesadão, boladão aponta como uma neo-identidade carioca: seja a jovem, o adulto, as poposudas, os bondes, os piranhas, até os meninos.
Em alguns cantos nas subidas do morro, ou no alto têm o comércio dos excluídos dos excluídos. Encontramos aparelhos usados, sofás rasgados, pedaços de bonecas, ou de uma maquina datilográfica recuperada, dando um sustento e dinheiros a algumas vidas que gastam tudo na pinga. A antitese da sobrevivencia e que amanhecem deitados no chão úmido e duro da subida e descida da ladeira.
E é a ladeira que orienta o sustento da prole da favela. Que determina suas fornteiras.
No alto do morro vivem centenas de familías. Retirantes ou não. Incluidas e compartilhada e emaranhada, ocupada sob o olhar de todos, na lógica urbana no Rio de Janeiro.