A Carta – uma crônica da observação
O caríssimo blogueiro já presenciou alguém lendo uma correspondência? Pois neste meu observatório remoto, me deparei com uma moça, que vestia uma boina de crochê, um brinco de estilo hippie e um colar provavelmente feito por algum artista popular.
O seu rosto expressivo chamava minha atenção, pelas reações que a carta produzia nela. Percebia um certo ritual de abrir o envelope, como que um mapa do tesouro de emoções registradas naqueles pedaços de papel.
A leitura era rápida, percebida pela velocidade da dança dos olhos, e no primeiro momento das frases, uma certa apreensão que logo foi cortada por uma longa gargalhada. Durante a leitura, o sorriso fazia e se desfazia com uma impressionante constância.
Minhas especulações silenciosas evidenciavam que tudo estava bem, apesar da saudade quase registrada por lágrimas, pela moça.
De frente para esse monitor branco do “Word” tentando bolar o próximo “post” ou se recebi um outro “email” ficou na minha retina um túnel do tempo de minha adolescência, onde não existia a Internet e a minha comunicação com meus amigos se dava por cartas e mais cartas vindas de diversos cantos remotos do Brasil e do exterior.
Cadê as cartas de Porto Alegre, Vitória, Recife e Porto Velho? Belo Horizonte, Curitiba e Natal? Onde estão estes meus amigos e amigas? Algumas a gente recupera pela net, internet e orkuts da vida virtual.
O mundo digital aproxima conhecidos e desconhecidos de desconhecidos a conhecidos virtualmente. Mas que me afastou de muitos amigos conhecidos no mundo real de viajens pelo Brasil, principalmente de Marataízes.
Essa sensação de se abrir um envelope, de tocar e sentir o cheiro do papel, da cola e eventualmente um perfume de uma amada distante. Abrir cuidadosamente ou vorazmente, dependendo da pessoa e devorar, ler, reler, chorar e rir.
Disso tenho saudades... muitas saudades.
A moça da carta? Essa não sei quem é, mas que ela hoje está feliz, ahhh está mesmo!!!