MOMENTO-DESABAFO
Pequenas coisas podem me causar uma irritação tão profunda que sou capaz de perder a cabeça. Especialistas podem ver nisso um forte traço de loucura (meus pais também vêem), outros acham que é apenas coisa de menina mimada (meus amigos também acham), mas eu sinceramente acredito que o erro esteja nos outros (tese com a qual ainda não consegui achar quem concorde). Um exemplo: você está falando com alguém e pede o número do celular de uma outra pessoa. Solícito, o sujeito responde prontamente: 987-654-32. Pronto, essa separação de primeiro três números, depois mais três e por fim outros dois já me deixa irritada. Na boa, celular se passa assim: 9876-5432, de quatro em quatro números e não se fala mais nisso. Mas tudo bem, passada a irritação inicial, faço um esforço para continuar conversando com o sujeito que não sabe ditar números de celular. Sabe-se lá porque, o digníssimo insiste em dizer o meu nome a cada frase "Mas aí, Joana, ele me telefonou e disse tal coisa. Joana, você acha o que? Eu também não posso aceitar isso, Joana. As pessoas têm que saber, Joana, que não é bem assim". Aí o sangue sobe: "Meu querido, vamos esclarecer uma coisa: há 27 anos eu sei que me chamo Joana, só estamos nós dois aqui, então não é preciso repetir meu nome compulsivamente, ok?". Mais uma etapa ultrapassada.
A conversa continua animadamente. Até que vem o tiro de misericórdia: já conversaram com alguém que, enquanto você fala, fica mexendo os lábios discretamente como se também estivesse falando? Tenho um amigo que sempre faz isso e sempre me estressa. "Por que você mexe a boca enquanto EU estou falando?" "Eu não faço isso" "Mas é claro que faz! Parece que está cochichando consigo mesmo enquanto eu falo sozinha!"
Bom, é claro que depois dessa não tem como manter o diálogo. Então vou fazer outra coisa. Sabe aquela pessoa que eu pedi o celular no início? Então, vou ligar para ela. Mas se for alguém com quem não tenho muita intimidade, o início do telefonema é motivo de tensão para mim. "Alô". "Oi, Fulano, é Joana". "Eu sei, o seu número está gravado na minha memória". Droga! Tenho dificuldade em ligar para as pessoas com as quais não tenho muitíssima intimidade, então quando telefono já tenho um textinho decorado e, se o meu interlocutor fugir do script, fico meio tonta. Atenção, a ordem correta é "Alô" "Oi, Fulano, é Joana" "Oi Joana, tudo bem?" "Tudo... Olha só, eu estou ligando para saber..." e aí a conversa engata. Além dessas coisas, também me irritam as pessoas que falam a menos de três palmos de distância do meu rosto, aquelas que pegam no meu braço compulsivamente durante a conversa (pior ainda são as que cutucam, putz!) e até as que insistem em falar olhando nos meus olhos (sinceramente, essa de Olhos nos Olhos só em ocasiões muitíssimo especiais!). Outra coisa: não gosto que falem meu nome alto na rua. Nossa, quer me matar de vergonha é soltar um JOAAAAAAAAAAAANAAAAAAAAAAAA no meio da Praça XV...
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