Terra Xukuru
Esse texto a seguir foi retirado do Jornal Diário de Pernambuco, 01 de agosto de 2002. Estive presente nessa coletiva editando o texto do Diário.
O deputado alemão Wolgang Kreissl-Doerfler - ligado às questões indígenas e dos Direitos Humanos no Mundo - esteve ontem em Pesqueira para ouvir os índios Xukuru.
O parlamentar trabalha com a questão indígena no Brasil desde 1979, quando acompanhava o povo Tuxá, na cidade de Rodelas, em Paulo Afonso.
Integrante do Partido Social Democrata alemão, Wolfgang Kreissl-Doerfler atualmente integra, em seu País, as comissões de
Agricultura, Desenvolvimento e Assuntos com países da América Latina.
Alemão cobra verba destinada a índios
O Deputado Wolfgang Kreissl-Doerfler disse que Governo brasileiro terá de explicar aplicação de recursos O Parlamento Europeu quer saber onde e como o Governo brasileiro aplicou os R$ 60 milhões
de euros - o equivalente a R$ 192.811.200,00 - destinados à demarcação de terras indígenas nos últimos seis anos.
O parlamentar veio ao Estado para acompanhar de perto os procedimentos tomados pelas autoridades do País, que estão ligadas às questões indígenas, e conversou com a Imprensa no Centro Luiz Freire, em Olinda.
Segundo ele, somente 30% dos terrenos desapropriados foram demarcados em todo o Brasil.
Na região de Pesqueira, apenas 21 donos de fazenda foram indenizados até agora, o que não chega a corresponder a 10% do total das cerca de 300 propriedades existentes na área.
O deputado informou que enviará ofícios para a Presidência da República, Procuradoria Geral da República, governos dos estados e para a Funai. Ele teme que o problema possa interferir no acordo global com os países do Mercosul, que está sendo negociado com a comunidade européia. "Um dos pontos principais da pauta de discussão é a questão dos Direitos Humanos. As instituições ofereceram muita assistência financeira e não estão tendo um retorno com isso. Estamos bastante preocupados com a lentidão dos processos de demarcação de terras".
O parlamentar disse ainda que o povo europeu também questiona como são produzidos os produtos exportados e vendidos no Exterior. "Não queremos comprar produtos originados do
sangue da população", ressaltou. O deputado não descartou a possibilidade de as entidades alemãs suspenderem o envio da verba ao Brasil. "Se verificarmos que esses recursos não
foram investidos corretamente, com certeza vamos cancelar o convênio", advertiu. Segundo ele, o dinheiro enviado pela Alemanha e comunidade Européia deve ser aplicado em projetos
na área de saúde, educação e habitação nas áreas indígenas.
O vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário, Saulo Feitosa, aproveitou para denunciar que a maioria do dinheiro europeu foi aplicado em terras localizadas no Estado do
Amazonas. "O que houve foi um favorecimento às empresas de grande porte como mineradoras e madeireiras, que atuam na região do Amazonas", disparou.
CIMI critica Policia Federal
Durante a reunião no Centro Luiz Freire, em Olinda, integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) voltaram a acusar a Polícia Federal de agir com truculência nas investigações do tiroteio ocorrido na semana passada em Pesqueira.
A advogado Rosane Lacerda disse que estranhou o fato de a PF querer interferir em questões que somente dizem respeito à tribo, como as eleições do cacique. Rosane afirmou que a definição do comando dos Xukuru só pode ser feita pela própria organização social. "Ninguém mais pode se meter nisso, nem o presidente da República", afirmou. Segundo ela, a comunidade indígena
reconhece apenas um cacique, que é Marcos Luidson.
Por isso, a advogada acredita que a PF deveria se retratar publicamente. Rosane denunciou que o delegado Marcos Cotrim - designado para investigar o assassinato do índio Chico Quelé,
no episódio ocorrido na semana passada, na Fazenda Lagoa de Pedra, onde os índios teriam trocado tiros com posseiros - não estaria conduzindo os trabalhos de forma correta. "Ele
colocou índios contra índios, ao invés de recolher as cápsulas espalhadas pela área da fazenda", falou.
Rosane diz que houve violação da Constituição Federal e dos tratados internacionais, que cuidam da questão do índio. "Quem recebe salário para andar armado e defender os índios é o
delegado", afirmou.
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