Barra de Jangada, esse bairro apêndice da orla de Jaboatão dos Guararapes de Pernambuco, soa como um universo paralelo do crescimento desordenadamente urbano.
Território livre para a apropriação dos controladores de corações e mentes dos mais humildes, das pessoas mais vulneráveis, dos que necessitam serem doutrinadas. A religião.
Caminhando por esse terreno ainda em formação, a necessidade de se imprimir colorido, me leva a uma galeria repleta de lojas com diversos serviços. Tive que, obrigatoriamente, me dirigir a Loja Gospel da Dani. Nome fantasia para serviços gráficos e venda de periféricos de informática.
Mas o nome faz jus ao estabelecimento, que oferece um som ambiente das rádios gospel, um misto de melodia com potentes vozes, em uma pregação sem fim.
Confesso que fiquei atordoado. Não conseguia salvar o numero de whatsapp e enviar o documento para ser impresso. Errei o numero, corrigia e não atualizava, enquanto minha mente era inundada pelo som magnético da cantora.
Se não houvesse a música, acho que conseguiria cumprir minha tarefa com maior eficiência. Mas fui completamente dominado pelo som, que me incomodava profundamente.
Quase depois de 20 minutos, consegui enviar o documento, pagar e sair daquele calvário. Eis que quando chego na rua, um alto falante do poste tocava uma música em altos decibéis, com um refrão repetitivo:
- Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia.....
Me senti perseguido. Definitivamente Barra de Jangada não me comporta e não me pertence. Tive que sair calado na paz do senhor....
Babilônia Irmãos. Talvez essa seja a sensação de morar em um estado que não seja laico. E que a massificação cultural, é parte de um processo de dominação.
É um todo, de uma relação de poder de sociedades totalitárias.